Gadolínio X Fibrose Sistêmica Nefrogênica (FSN)
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Gadolínio X Fibrose Sistêmica Nefrogênica (FSN)
Gadolínio X Fibrose Sistêmica Nefrogênica (FSN)
Douglas J. Racy
FSN, também conhecida como dermatopatia fibrosante nefrogênica, é uma condição rara caracterizada pela formação de tecido conectivo na pele, tornando-a espessada, endurecida, não acometendo a face (diferente da esclerodermia), podendo envolver o músculo e a articulação. A fibrose sistémica é severa, progressiva e irreversível, comprometendo os pulmões, coração, fígado, rins, testículo, músculo e até duramáter.
FSN tem sido observada nos pacientes com insuficiência renal em grau moderado ou avançado. Relatada também nos pacientes submetidos a transplante hepático. Existe uma mesma incidência nos homens e mulheres, geralmente entre 40 e 50 anos de idade.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com esclerodermia, fibrose induzida por drogas, escleromixedema e fasciíte eosinofílica.
Não existe tratamento efetivo para esta patologia. Geralmente, com as terapias atuais, nota-se uma melhora de aproximadamente 20% dos sintomas.
FSN foi reconhecida primeiramente em 1997 e publicado o primeiro caso por Cowper et al em 2000. Várias teorias estão sendo publicadas sobre a causa da doença, entre elas: uso de gadolínio em pacientes nefropatas, dialíticos, transplantados, estados de hipercoagulabilidade, trombose venosa profunda, pós-operatório de cirurgia vascular, eritropoietina,entre outras.
Cowper et al, publicou a relação da FSN com pacientes nefropatas que utilizaram gadolínio, com acidose metabólica. Trabalhos recentes demonstraram a relação da FSN em nefropatas sem acidose metabólica.
Atualmente existem mais de 200 casos de FSN no mundo, em nefropatas que utilizaram o gadolínio.
O mecanismo pelo qual o agente paramagnético está envolvido na fisiopatologia da FSN ainda é incerto, embora vários autores defendem a hipótese que diferentes propriedades físico-químicas do gadolínio levariam a uma deposição do íon de gadolínio livre (Gd 3+) na pele e nos órgãos, induzindo à fibrose. Pacientes com insuficiência renal severa demoram mais tempo para eliminar o agente paramagnético do corpo.
Existem basicamente dois compostos químicos de gadolínio, sendo eles o linear e o macrocíclico. O composto linear dissocia mais facilmente e rapidamente, liberando o íon de gadolínio livre (tóxico) do quelato. O composto macrocíclico é considerado mais estável termodinamicamente e com dissociação mais lenta.
Devido à toxicidade de sua forma iônica, o gadolínio é utilizado com um quelato. Alguns autores discutem a influência do gadolínio circulante (Gd 3+), causando dano tecidual, ou mesma a própria reação do quelato com íons metálicos endógenos (fosfato, zinco).
Gadolínios - Composto Linear
• Gadodiamide: Gd-DTPA-BMA
(Omniscan - GE)
• Gadoversetamide Gd-DTPA-BMEA
(Optimark - Mallinckrodt)
• Gadopentetato dimeglumine
Gd-DTPA (Magnevist - Berlex)
• Gadobenato dimeglumine Gd-BOPTA (MultiHance — Bracco)
• Gadofosveset MS325 (Vasovist)
• Gadoxetato Gd-EOB-DTPA
(PrimovisrE).
Gadolínios – Composto Macrocíclico
• Gadoterato GD-DOTA (Dotarem-Guerbet)
• Gadobutrol GD-BT-DO3A (Gadovist)
• Gadoteridol GD-HP-DO3A
(ProHance — Bracco)
E. Kanal. Pittsburgh Medicai Center. Chair ACR MR Safety Committee
Radiology 2007; 243:148-157
Não existem dados para determinar a utilidade da diálise em prevenir ou tratar a FSN em nefropatas que receberam gadolínio. Sabe-se que a diálise elimina o gadolínio circulante nas primeiras 3 horas em 80%; na segunda sessão 24 horas após, 95%. Existem relatos de casos de FSN em pacientes nefropatas não dialíticos. Vários protocolos têm sido publicados na literatura para minimizar o risco desta patologia, dentre eles, sugiro o protocolo da Universidade de Madison,Wisconsin (EUA):
• Paciente hospitalizado
• Clearance de creatinina < 60ml/min/I,73m2 (alguns autores sugerem < 30) +
• Infecção (osteomielite) / pneumonia / sepses
• ou trombose (arterial / venosa)
• ou cirurgia (transplante hepático / revascularização do miocárdio / amputação)
NÃO USAR QUALQUER GADOLÍNIO
• Salientamos que nestas condições, a chance do paciente adquirir FSN é de aproximadamente 5 %.
Se for necessário RM / AngioRM com gadolínio:
• Termo de consentimento informado
• Optar por gadolínio macrocíclico
• Se o paciente estiver em hemodiálise, realizá-la 3-6h após a injeção do Gd e 24-48h
• Se o paciente não for dialítico, submetê-lo a uma hidratação satisfatória pré e pós gadolínio.
Algumas situações polémicas:
• paciente pós operatório de correção de aneurisma no segmento infrarenal da aorta, com a colocação de prótese auto — expansiva (ferromagnética), com suspeita de endofuga, sendo nefropata (clearance — 28), com US Doppler inconclusivo — solicitado angioCT com gadolínio. • paciente alérgico a iodo, obeso, diabético, nefropata (clearance = 32) com claudicação no membro inferior direito, suspeita de estenose na artéria ilíaca comum direita— solicitado angioRM com gadolínio.
Fórmula:
—Clearance de creatinina = (140 — idade) x peso / 72 x Creatinina sérica
—Se for mulher x 0,85
—Clearance de creatinina > 80ml/min/l,73m2 (normal)
—Clearance de creatinina > 60ml/min/l,73m2 (transplante renal)
—Clearance de creatinina < 30ml/min/l,73m2 (nefropatia)
—Clearance de creatinina < 15ml/min/l,73m2 (estágio final)
Referências Bibliográficas
•AJR 2007; 188: 585-592 •AJR 2007; 188: 586-592
• Radiology 2007; 243: 148-157
• Radiology 2007; 242: 647-649
• Eur Radiology 2007; 17: 1921-1923
• Arch Path Lab Med 2006; 130: 209-212
• Seminars in Dialysis 2006;
19(3): 191-194
• Seminars in Arthritisand Rheumatism
2006; 35: 238-249.
• Nephrol Dial Transplant 2006; 21: 1745
• J Am Soe Nephrol 2006; 17(9): 2359-62.
• Nephrol Dial Transplant 2006; 1-5
• Nephrol Dial Transplant 2006; 21:
1104-1108.
• Am J Kidney Dis 2005; 46: 763-765
• Br J Dermatol 2004; 150: 1050-1052.
• Eur Radiol 2004; 14: 1654-1656
• Radiology 2003; 227: 639-646
• Acad Radiol 1998; 5: 491-502
• Magn Reson Imaging 1997; 15: 13-20
• Inorg Chem 1995; 34: 633-642
• E. Kanal. Pittsburgh Medicai Center.
Chair ACR MR Safety Committee
• International Center for Nephrogenic
Fibrosing Dermopathy Research
(ICNFDR)
• http://icnfdr.org
• Medicines and Healthcare produets
Regulatory Agency (MHRA)
• http://www.mhra.gov.uk
• European Society of Urogenital
Radiology (ESUR)
• http://www.esur.org
Douglas J. Racy é médico radiologista da Med Imagem - Hospital Beneficência Portuguesa, da Imagemédica - Hospital São José,e segundo tesoureiro da SPR.
Contato com o auto: donali@terra.com.br
Publicado no Jornal da Imagem, setembro/2007
Douglas J. Racy
FSN, também conhecida como dermatopatia fibrosante nefrogênica, é uma condição rara caracterizada pela formação de tecido conectivo na pele, tornando-a espessada, endurecida, não acometendo a face (diferente da esclerodermia), podendo envolver o músculo e a articulação. A fibrose sistémica é severa, progressiva e irreversível, comprometendo os pulmões, coração, fígado, rins, testículo, músculo e até duramáter.
FSN tem sido observada nos pacientes com insuficiência renal em grau moderado ou avançado. Relatada também nos pacientes submetidos a transplante hepático. Existe uma mesma incidência nos homens e mulheres, geralmente entre 40 e 50 anos de idade.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com esclerodermia, fibrose induzida por drogas, escleromixedema e fasciíte eosinofílica.
Não existe tratamento efetivo para esta patologia. Geralmente, com as terapias atuais, nota-se uma melhora de aproximadamente 20% dos sintomas.
FSN foi reconhecida primeiramente em 1997 e publicado o primeiro caso por Cowper et al em 2000. Várias teorias estão sendo publicadas sobre a causa da doença, entre elas: uso de gadolínio em pacientes nefropatas, dialíticos, transplantados, estados de hipercoagulabilidade, trombose venosa profunda, pós-operatório de cirurgia vascular, eritropoietina,entre outras.
Cowper et al, publicou a relação da FSN com pacientes nefropatas que utilizaram gadolínio, com acidose metabólica. Trabalhos recentes demonstraram a relação da FSN em nefropatas sem acidose metabólica.
Atualmente existem mais de 200 casos de FSN no mundo, em nefropatas que utilizaram o gadolínio.
O mecanismo pelo qual o agente paramagnético está envolvido na fisiopatologia da FSN ainda é incerto, embora vários autores defendem a hipótese que diferentes propriedades físico-químicas do gadolínio levariam a uma deposição do íon de gadolínio livre (Gd 3+) na pele e nos órgãos, induzindo à fibrose. Pacientes com insuficiência renal severa demoram mais tempo para eliminar o agente paramagnético do corpo.
Existem basicamente dois compostos químicos de gadolínio, sendo eles o linear e o macrocíclico. O composto linear dissocia mais facilmente e rapidamente, liberando o íon de gadolínio livre (tóxico) do quelato. O composto macrocíclico é considerado mais estável termodinamicamente e com dissociação mais lenta.
Devido à toxicidade de sua forma iônica, o gadolínio é utilizado com um quelato. Alguns autores discutem a influência do gadolínio circulante (Gd 3+), causando dano tecidual, ou mesma a própria reação do quelato com íons metálicos endógenos (fosfato, zinco).
Gadolínios - Composto Linear
• Gadodiamide: Gd-DTPA-BMA
(Omniscan - GE)
• Gadoversetamide Gd-DTPA-BMEA
(Optimark - Mallinckrodt)
• Gadopentetato dimeglumine
Gd-DTPA (Magnevist - Berlex)
• Gadobenato dimeglumine Gd-BOPTA (MultiHance — Bracco)
• Gadofosveset MS325 (Vasovist)
• Gadoxetato Gd-EOB-DTPA
(PrimovisrE).
Gadolínios – Composto Macrocíclico
• Gadoterato GD-DOTA (Dotarem-Guerbet)
• Gadobutrol GD-BT-DO3A (Gadovist)
• Gadoteridol GD-HP-DO3A
(ProHance — Bracco)
E. Kanal. Pittsburgh Medicai Center. Chair ACR MR Safety Committee
Radiology 2007; 243:148-157
Não existem dados para determinar a utilidade da diálise em prevenir ou tratar a FSN em nefropatas que receberam gadolínio. Sabe-se que a diálise elimina o gadolínio circulante nas primeiras 3 horas em 80%; na segunda sessão 24 horas após, 95%. Existem relatos de casos de FSN em pacientes nefropatas não dialíticos. Vários protocolos têm sido publicados na literatura para minimizar o risco desta patologia, dentre eles, sugiro o protocolo da Universidade de Madison,Wisconsin (EUA):
• Paciente hospitalizado
• Clearance de creatinina < 60ml/min/I,73m2 (alguns autores sugerem < 30) +
• Infecção (osteomielite) / pneumonia / sepses
• ou trombose (arterial / venosa)
• ou cirurgia (transplante hepático / revascularização do miocárdio / amputação)
NÃO USAR QUALQUER GADOLÍNIO
• Salientamos que nestas condições, a chance do paciente adquirir FSN é de aproximadamente 5 %.
Se for necessário RM / AngioRM com gadolínio:
• Termo de consentimento informado
• Optar por gadolínio macrocíclico
• Se o paciente estiver em hemodiálise, realizá-la 3-6h após a injeção do Gd e 24-48h
• Se o paciente não for dialítico, submetê-lo a uma hidratação satisfatória pré e pós gadolínio.
Algumas situações polémicas:
• paciente pós operatório de correção de aneurisma no segmento infrarenal da aorta, com a colocação de prótese auto — expansiva (ferromagnética), com suspeita de endofuga, sendo nefropata (clearance — 28), com US Doppler inconclusivo — solicitado angioCT com gadolínio. • paciente alérgico a iodo, obeso, diabético, nefropata (clearance = 32) com claudicação no membro inferior direito, suspeita de estenose na artéria ilíaca comum direita— solicitado angioRM com gadolínio.
Fórmula:
—Clearance de creatinina = (140 — idade) x peso / 72 x Creatinina sérica
—Se for mulher x 0,85
—Clearance de creatinina > 80ml/min/l,73m2 (normal)
—Clearance de creatinina > 60ml/min/l,73m2 (transplante renal)
—Clearance de creatinina < 30ml/min/l,73m2 (nefropatia)
—Clearance de creatinina < 15ml/min/l,73m2 (estágio final)
Referências Bibliográficas
•AJR 2007; 188: 585-592 •AJR 2007; 188: 586-592
• Radiology 2007; 243: 148-157
• Radiology 2007; 242: 647-649
• Eur Radiology 2007; 17: 1921-1923
• Arch Path Lab Med 2006; 130: 209-212
• Seminars in Dialysis 2006;
19(3): 191-194
• Seminars in Arthritisand Rheumatism
2006; 35: 238-249.
• Nephrol Dial Transplant 2006; 21: 1745
• J Am Soe Nephrol 2006; 17(9): 2359-62.
• Nephrol Dial Transplant 2006; 1-5
• Nephrol Dial Transplant 2006; 21:
1104-1108.
• Am J Kidney Dis 2005; 46: 763-765
• Br J Dermatol 2004; 150: 1050-1052.
• Eur Radiol 2004; 14: 1654-1656
• Radiology 2003; 227: 639-646
• Acad Radiol 1998; 5: 491-502
• Magn Reson Imaging 1997; 15: 13-20
• Inorg Chem 1995; 34: 633-642
• E. Kanal. Pittsburgh Medicai Center.
Chair ACR MR Safety Committee
• International Center for Nephrogenic
Fibrosing Dermopathy Research
(ICNFDR)
• http://icnfdr.org
• Medicines and Healthcare produets
Regulatory Agency (MHRA)
• http://www.mhra.gov.uk
• European Society of Urogenital
Radiology (ESUR)
• http://www.esur.org
Douglas J. Racy é médico radiologista da Med Imagem - Hospital Beneficência Portuguesa, da Imagemédica - Hospital São José,e segundo tesoureiro da SPR.
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Publicado no Jornal da Imagem, setembro/2007
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